Vivemos em uma simulação? Reflexões incômodas sobre fé, tecnologia e futuro
- Paul Shack
- 23 de ago.
- 4 min de leitura

Este não é um texto para trazer dicas práticas de negócios nem previsões concretas sobre o futuro. Pelo contrário: pode soar ofensivo para alguns, especialmente para quem se incomoda com idéias que desafiam certezas. Se for o seu caso, talvez seja melhor parar por aqui.
A proposta é simples: um exercício de imaginação. Para que funcione, é preciso encarar as provocações como se aplicassem a nós mesmos, e não apenas a “outros”.
Fé sem charlatanismo
Quando falo em fé, não me refiro à aceitação cega do falso, mas sim à disposição de acreditar em hipóteses que não podem ser provadas nem refutadas de forma absoluta. É nesse espaço de incerteza que surgem algumas das perguntas mais profundas da nossa existência.
A experiência com gigantes e a simulação
Em 2011, um grupo de hackers desafiou grandes empresas (Hackearam o paystation 4). Foram processados por uma gigante do entretenimento (Sony)e enfrentaram momentos de enorme pressão, chegando ao limite físico e mental.
Na tentativa de provar que não eram parasias sociais, conquistaram espaço em empresas como o Google e Facebook. Lá, descobriram rapidamente uma verdade incômoda: enquanto o Google falava em organizar a informação mundial, no Facebook a missão era outra — aumentar o tempo que as pessoas passavam dentro da plataforma. Essa constatação abriu um caminho para reflexões ainda mais radicais.
A hipótese da simulação
Todos já ouvimos falar da hipótese da simulação. A ideia é simples: se somos capazes de criar mundos digitais cada vez mais complexos, como em jogos de videogame, por que acreditar que o nosso próprio mundo não seria também uma simulação criada por outro nível de existência?
Se Mario, dentro de Super Mario 64, refletisse sobre sua realidade, a conclusão mais lógica seria justamente essa: ele vive em uma simulação programada por outro mundo.
Seguindo essa linha, é plausível pensar que o “Deus” histórico seja, na verdade, um programador cósmico. E que a nossa realidade seja apenas mais um nó em uma árvore de simulações, onde cada nível cria outro.
Questionando certezas
Fui criado em um ambiente agnóstico, ouvindo que a criação do mundo em sete dias era um absurdo e que a verdadeira resposta estava no Big Bang. Mas logo surge a pergunta inevitável: quem criou o Big Bang?
A ciência, assim como a religião, também chega a pontos de parada conceitual, onde simplesmente se aceita algo sem explicação mais profunda…
Esse tipo de arrogância — acreditar que já se tem todas as respostas — é tão comum entre ateus quanto entre religiosos.
O tigre no zoológico
Uma parábola ajuda a ilustrar o dilema: um tigre vive em um zoológico luxuoso, amplo e agradável. Ele nunca vê as grades nem reconhece os limites da jaula. Intelectualmente, até sabe que tigres vivem em cativeiro, mas não encontra evidências disso em seu próprio espaço. Vive, reproduz, morre — sem nunca perceber o olhar do tratador.
Nós, humanos, podemos ser esse tigre. Acreditamos estar livres, confiantes na ciência que nos mostra viagens ao espaço ou ao fundo do oceano. Mas será que não estamos também em uma jaula invisível, observados por “zoológicos” muito mais inteligentes?
Hackeando a natureza
Se a simulação é real, surge a pergunta prática: como sair dela? O grupo de hackers que mencionei sempre buscou falhas em sistemas fechados, explorando brechas improváveis para transformar regras imutáveis em algo manipulável.
Se conseguimos isso em jogos como Super Mario, por que não na própria natureza? Talvez fenômenos como buracos negros ou paradoxos da física quântica sejam pistas de “falhas no código” da nossa realidade.
O peso da alma e o pós-vida
Muitos descartam a ideia de alma ou vida após a morte como fantasia infantil. Mas, dentro da hipótese da simulação, isso deixa de ser impossível. Assim como o kernel de um sistema pode pausar ou acessar a memória de processos sem que estes percebam, pode haver camadas superiores à nossa existência que continuem registrando “dados” de quem pensamos ser.
Poder: sobre pessoas ou sobre a natureza?
Grande parte das ambições humanas gira em torno do poder sobre pessoas: políticos, CEOs, bilionários. Mas, se estamos presos em uma simulação, talvez o verdadeiro poder a ser buscado seja sobre a natureza, sobre o próprio código que rege esta realidade.
Alguns chegam a cogitar a criação de igrejas não como instituições místicas, mas como organizações racionais focadas em uma missão: encontrar formas de escapar da simulação.
Entropia e o fim inevitável
Mesmo que nada disso seja real, a ciência nos lembra de uma verdade implacável: a entropia cresce sem parar. O universo caminha para a morte térmica, para o colapso do tempo, da energia e da própria possibilidade de vida. Isaac Asimov resumiu essa angústia em sua obra “A Última Pergunta”: como reduzir a entropia do universo? Se não resolvermos isso, estamos condenados.
Viver em uma simulação não é apenas uma teoria filosófica: é uma lente que muda radicalmente a forma de encarar a vida, a morte e até a moral.
Talvez não tenhamos livre-arbítrio, talvez estejamos presos em leis imutáveis. Mas se existe alguma chance de encontrar uma brecha, um “exploit” que nos permita ir além, não seria esse o maior propósito de todos?



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