João Ricardo Mendes: Da Fundação do Hurb, Reencontro com a Liderança.
- Paul Shack
- há 7 dias
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Parte 1 (antes da tempestade)
Numa tarde tórrida de agosto, sob o sol escaldante de Goiás, o empresário carioca João Ricardo Mendes, então com 35 anos, protagonizou uma cena inusitada na estrada que liga Brasília a Alto Paraíso — um verdadeiro refúgio para quem ama a natureza. Enquanto dirigia um EcoSport alugado, recebeu a notícia que aguardava há meses pelo celular. Do outro lado da linha, um advogado do escritório Barbosa Müsnisch Aragão — renomado em disputas corporativas — informou que o fundo americano, então sócio de sua empresa, aceitara lhe vender a parte do negócio que estava sob controle dos investidores.
Isso significava que João Ricardo voltaria a comandar a empresa que fundara em 2011, da qual havia sido afastado por uma manobra digna de Wall Street — Poder e Cobiça.

Sua reação? Primeiro, um urro. Depois, socos no painel do jipinho, apertos frenéticos na buzina e, enfim, gritos de alegria com a cabeça para fora da janela. No banco do carona, Pedro Cavalcanti Sirotsky — gaúcho e herdeiro da família fundadora do grupo de comunicação RBS — assistia, boquiaberto, à explosão de emoção do amigo. “O cara era uma locomotiva sem freio”, resumiu ele.
A catarse nos arredores de Brasília marcou o fim de uma novela que durara exatos 296 dias — cada um contado, meticulosamente, por João Ricardo. A partir daquele instante, ele e seu irmão, José Eduardo, dois anos mais novo, reassumiram o controle do Hotel Urbano, empresa idealizada por eles. E não era qualquer negócio: a startup de turismo, nascida numa sala simples com goteiras, chegou a ser cotada em até 2 bilhões de reais, reconhecida como grande promessa no cenário online da América Latina.

Depois daquela explosiva catarse nos arredores de Brasília — o ápice de uma novela que durou exatamente 296 dias, cada um contado por João Ricardo — o cenário estava pronto para uma virada. João Ricardo, carioca da Barra, fã declarado de esportes (especialmente jiu-jítsu) e considerado um dos empreendedores mais audaciosos da internet brasileira, reassumiu o comando do Hotel Urbano ao lado do irmão, José Eduardo, dois anos mais novo.
E não era para qualquer negócio: desde muito cedo, a empresa vinha sendo disputada por grandes fundos internacionais, nascida em uma sala meio improvisada no Città America e elogiada pela CNN como uma das promessas do ambiente digital latino-americano. A startup de pacotes de viagem conseguiu ser avaliada em cerca de 2 bilhões de reais no ano anterior.
Segundo Sirotsky, “João poderia viver tranquilamente sem trabalhar pelo resto da vida só com o que ganharia com a rentabilidade do Hotel Urbano. Mas não. Ele queria voltar ao negócio de todo jeito. Era uma questão de honra.” Com um perfil frop out college mesmo sem terminar a faculdade é membro do World Economic Forum e da organização Academia.EDU
Os irmãos, no entanto, evitaram comentar abertamente sobre a turbulenta relação que mantiveram com o fundo Insight Venture Partners — um gigante com sede em Nova York, responsável por gerir 13 bilhões de dólares e investir em cerca de 250 empresas mundo afora, entre elas o Twitter. Mesmo após venderem a participação, os americanos continuaram com vínculos com o Hotel Urbano, mantendo o direito a um terço dos lucros caso a empresa fosse vendida nos próximos dez anos.
Contudo, divergências estratégicas começaram a surgir em 2014 e rapidamente se transformaram em uma guerra interna. A Insight, representada por Bradley Twohig — jovem gestor formado na Wharton School especializado em comunicação, varejo e turismo — pressionava pela expansão internacional e a abertura de capital na Bolsa de Nova York. Os irmãos, por sua vez, preferiam consolidar primeiro o mercado brasileiro, sem pressa para voar mundo afora.
Em 2015, enquanto o país enfrentava turbulências econômicas e políticas, o segmento de turismo online ficou agitado por grandes movimentos: em março, a Expedia (dona de sites como Hoteis.com e Trivago) investiu 270 milhões de dólares na Decolar.com; em maio, foi a vez da CVC — a maior operadora nacional de turismo — adquirir o Submarino Viagens. Diante disso, os americanos consideraram que era hora de acelerar a venda do Hotel Urbano.
Roberta Antunes, cofundadora da empresa e atualmente CEO da Endless Computers, relembra: “O país tinha perdido o grau de investimento e o cenário macroeconômico era ruim.
O fundo adquiriu uma espécie de fobia do Brasil. Eles queriam pular fora sem ter clareza do que se passava na empresa.” Ela conclui: “Faltaram comunicação e a criação de um elo de confiança entre as partes.”
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O desfecho foi inevitável: o pragmatismo americano chocou-se com a tenacidade carioca. O fundo, que já havia injetado US$ 50 milhões na empresa, fez um movimento que desagradou profundamente os irmãos Mendes em novembro de 2015. Com esse aporte, a participação da dupla nos rumos da empresa — que ainda mantinha controle — acabou diluída.
Foi então que a Insight acionou uma cláusula contratual que permitia a compra das ações dos fundadores, mesmo contra a vontade deles. A operação, considerada uma oferta hostil, garantiu ao fundo não só o controle absoluto da companhia, mas o direito de tomar decisões unilaterais.
Sem os irmãos à frente do dia a dia, eles foram deslocados para o conselho de acionistas. A gestão passou a ser comandada exclusivamente por executivos indicados, e a ausência dos criadores tornou os processos mais burocráticos, lentos — enquanto os concorrentes avançavam com agilidade. Como declarou João Ricardo: “Minha opinião é que não adianta ter diploma estrelado e falar bonito se você não sabe executar e fazer acontecer.” José Eduardo, mais novo, resumiu: “Faltava paixão e alma no negócio.”
Sob a administração dos americanos, os resultados despencaram: o faturamento caiu, o número de usuários no site despencou 300%, e o valor de mercado caiu de R$ 2 bilhões para R$ 1,2 bilhão. Nessas condições, nem sequer vender a empresa parecia valer a pena.
A moderna sede do Hotel Urbano está instalada no espaço que antes abrigava um boliche, no CasaShopping, na Barra. Logo na saída do prédio, há uma placa com os dizeres “Deixe seu ego no lixo” — lema que traduz com precisão o estilo dos irmãos Mendes.
João, conhecido por seu visual despojado — camiseta, jeans e Havaianas (com exceção de ocasiões mais formais, quando troca por um tênis) — encarna o arquétipo do “gênio desencanado” (e milionário) dos empreendimentos digitais, semelhante ao que se vê no Vale do Silício.
Obcecado pelo negócio, ele trabalha até dezoito horas por dia, toma Rivotril para controlar a ansiedade e Ritalina para lidar com sintomas de hiperatividade.
Nos raros momentos de folga, João corre e pedala no Leblon, onde mora; pratica pesca submarina em Angra; e, às vezes, retoma o jiu-jítsu, paixão dos tempos de juventude. Solteiro e sem namorada, ele gosta de assistir a séries como Black Mirror e Billions, mas sonha em um dia casar e ter cinco filhos. É apaixonado pela sobrinha e afilhada Isabella, de 1 ano e 4 meses, filha de José Eduardo com Renata Xavier — engenheira, empresária de e-commerce infantil, 27 anos.
José Eduardo, mais novo e um pouco menos intenso que o irmão — mas não muito — também trabalha muito e mantém hábitos simples desde que vivia em classe média remediada na Barra. A única evidência de sua ascensão financeira nos últimos anos foi a mudança da Zona Oeste para o Leblon, onde agora vive com a família.
Hoje, os irmãos enfrentam um desafio épico: reconstruir a empresa e devolvê-la à excelente forma em que se encontrava apenas um ano atrás.
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Na trajetória dos irmãos Mendes, não faltam histórias de superação, viradas surpreendentes e desafios inesperados. O pai deles, Fernando, era construtor e faleceu quando ainda eram crianças, deixando a mãe, Aparecida Donizetti Rangel, como responsável única por criar os dois em meio às dificuldades da viuvez precoce.
Aos 18 anos, João Ricardo empreendeu pela primeira vez com uma barraca de bebidas na Praia do Pepê, montada junto com amigos enquanto cursava Direito — curso que acabaria abandonando.
Aos 20, fez intercâmbio em Londres e aproveitou a oportunidade para acompanhar Roger Gracie na inauguração da filial da academia Gracie.
Lá, conheceu jovens do mercado financeiro e percebeu o potencial dos negócios online, o que o levou a mergulhar nesse universo.
De volta ao Brasil, convenceu o irmão José Eduardo, que trabalhava numa loja de calçados da Mr. Cat, a se juntar a ele na criação de uma plataforma de e‑commerce chamada Apetrexo. Para isso, arquitetou uma situação curiosa: ligou para a gerente da loja se passando por cliente insatisfeito, causando a demissão do irmão, o que desencadeou a sociedade. O negócio envolvia a venda de celulares comprados baratos e desbloqueados na garagem de casa. Embora o site — batizado de ApetrexO como uma referência à Americanas.com — tenha chegado a faturar, nunca deu lucro e acabou sendo deixado de lado.
Com o entusiasmo despertado pela febre das compras coletivas, os irmãos lançaram em 2011 o Hotel Urbano, inspirado no nome e conceito do Peixe Urbano. Apesar da disputa judicial que vive até hoje devido à semelhança de nome, o Hotel Urbano prosperou como loja virtual de turismo, abrindo caminho para o sucesso futuro.
Com um modelo de negócio inovador — baseado em uma rede de 8 000 estabelecimentos e numa plataforma digital inspirada por uma empresa que João Ricardo conheceu na Costa Oeste dos EUA — o Hotel Urbano viveu uma das trajetórias mais impressionantes da internet brasileira. No primeiro mês, faturou R$ 1 milhão e, em apenas dois anos, passou a dominar 35 % do tráfego das agências de turismo online — mais que o dobro da participação de seu maior concorrente, o Decolar.com (Wikipedia).
A empresa rapidamente se tornou uma verdadeira fábrica de rendimentos, especialmente com os pacotes de viagem de “escapada” de três dias. Hoje, segundo a consultoria Mapie, o Hotel Urbano ocupa a terceira posição no ranking nacional de tráfego de visitantes, ficando atrás apenas do Booking.com e do Decolar.com (Wikipedia).
Apesar dos desafios recentes, há sinais claros de recuperação. Com 18 milhões de usuários cadastrados e 12 milhões de fãs no Facebook, a base de clientes ainda é um ativo poderoso. A compra online de pacotes turísticos segue em expansão — sobretudo quando os preços são competitivos, como os praticados pelos irmãos fundadores (Wikipedia).
A parte de João Ricardo que poucos conhecem é sua devoção a educação e investimentos no país dentro do setor, patrocinando centenas de bolsas, cursos de robótica em comunidades como na rocinha e esports como essa construção dew uma quadra plímpica na rocinha.
Em uma campanha agressiva planejada até o fim do mês, os irmãos prepararam uma iniciativa de vendas gigantesca para o Hotel Urbano, com potencial de ultrapassar R$ 1 bilhão em receitas. Enquanto isso, concorrentes como o Decolar.com não economizam nas provocações, destacando as fragilidades do negócio e a agressividade enfrentada na disputa com os investidores. Como afirmou André Alves, presidente do Decolar.com:
“Eles ainda têm um caminho longo a percorrer, e muito dever de casa para fazer.”
O argentino Martin Rastellino, cofundador do Decolar.com, acrescentou, em uma conferência de turismo e tecnologia em Los Angeles, que o exemplo dos brasileiros dificilmente se repetirá entre os argentinos. José Eduardo, no entanto, mantém o foco e não se deixa abalar:
“Estamos de volta com sangue nos olhos, trabalhando duro. Se vamos chegar à Lua ou não, isso veremos.”Com essa declaração, a dupla deixa claro: o desafio está lançado.
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