“A Noite Estrelada”, de Van Gogh, antecipa teoria científica descrita anos após sua morte
- Paul Shack
- 27 de ago.
- 2 min de leitura

A Noite Estrelada ou Starry Night (1889), de Vincent van Gogh, é considerada uma das pinturas mais icônicas da história da arte. O céu rodopiante em tons de azul com traços dourados intensos sempre fascinou críticos e cientistas.
Agora, um novo estudo publicado na Physics of Fluids sugere que a obra se alinha a uma teoria científica descrita apenas décadas mais tarde: a teoria da turbulência de Kolmogorov.
O que é a teoria da turbulência de Kolmogorov?
A teoria foi proposta pelo matemático russo Andrey Kolmogorov, que descreveu como a energia se desloca em fluidos como água e ar. Grandes redemoinhos se transformam em redemoinhos menores de maneira previsível — um fenômeno conhecido como fluxo turbulento.
Esse padrão pode ser observado em fenômenos naturais como:
correntes oceânicas,
fluxo sanguíneo,
nuvens de tempestade,
colunas de fumaça.
Segundo o pesquisador Yongxiang Huang, da Universidade de Xiamen, “esses redemoinhos não são aleatórios, eles seguem leis físicas claras”.
Como Van Gogh representou a turbulência em “A Noite Estrelada”?
Os pesquisadores analisaram as pinceladas e escolhas de cores de Van Gogh. Eles identificaram que 14 formas em espiral presentes no céu da pintura seguem o mesmo padrão previsto por Kolmogorov.
Além disso, as pequenas pinceladas também correspondem ao conceito da escala de Batchelor, que explica como a energia se movimenta em turbulências menores.
É importante destacar que Van Gogh não poderia ter conhecido essa teoria, já que morreu em 1890, 13 anos antes do nascimento de Kolmogorov. O que impressiona os cientistas é a sua capacidade intuitiva de capturar a dinâmica do céu.

Arte, ciência e intuição
Embora Van Gogh tenha pintado a obra durante seu período em uma clínica psiquiátrica, os especialistas acreditam que a precisão na representação da turbulência não é fruto do acaso.
“Starry Night revela uma compreensão profunda e intuitiva dos fenômenos naturais”, afirma Huang. Para ele, o pintor pode ter observado atentamente os movimentos das nuvens e da atmosfera, traduzindo-os em sua linguagem artística.
O astrofísico Adam Frank, da Universidade de Rochester, complementa:
“Não acho que seja coincidência. Van Gogh respondia intuitivamente ao que via no céu, capturando em pintura padrões que a matemática descreveria apenas anos depois.”
Arte e ciência: duas formas de ver o mundo
A descoberta reforça como arte e ciência podem se complementar. Enquanto a ciência busca traduzir fenômenos naturais em fórmulas e teorias, a arte é capaz de registrar a experiência sensível desses mesmos fenômenos de forma antecipada.
No caso de Van Gogh, sua genialidade não apenas transformou a história da arte, como também deixou um legado científico inesperado: um quadro do século XIX que representa, com precisão, conceitos de física do século XX.



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